quinta-feira, 23 de outubro de 2014

TAKT (Miniconto)

 Ela era nova ali. Mais baixa, magra e delicada, parecia quase uma criança e despertou o riso das outras. Os homens, contudo, secretamente a desejaram. Como eles guardavam muito mal seus segredos, logo a novata, além do escárnio das mulheres, passou a merecer também seu ódio. Elas negaram-lhe comida e a cada dia seu corpo ficava mais magro sob o casaco de pele, seu único bem. Havia sido atraída para o grupo pela fome e estava disposta a trocar com Gári, a velha, suas peles por comida. Ela aceitou. Riram quando ela foi enxotada nua para um canto, lá se encolhendo mais de vergonha que de frio. Dois dias depois, com o estômago a ponto de digerir-se a si mesmo, esticou a mão para Egar enquanto ele comia, mas ele a desencorajou com um tapa. Faminta, chegou-se para o lado de Hudk, que a recebeu com um sorriso. Ele ofereceu-lhe castanhas, que ela devorou sem modos enquanto ele lhe alisava os cabelos amarelos e mirava-lhe os pequenos seios semidescobertos. Ela ofereceu-lhe, além dos seios, seu sexo como gratidão. Egar enciumou-se com a alegria de Hudk. Nos dias seguintes, os outros fizeram fila perante a garota para trocar comida, roupas e enfeites por gratidão. O enciumado cochichou nos ouvidos das mulheres que, enfurecidas, atacaram-na. Os homens lamentaram e a cobriram com mais prendas e, por cima de tudo, terra. Em 29.326 anos, os arqueólogos descobririam os restos adornados de Takt, a primeira prostituta.